quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

OS MELHORES DO CINEMA EM BELÉM: 1962 E 1963

A Associação Paraense de Críticos Cinematográficos (APCC), atualmente reformulada com o nome de Associação de Críticos de Cinema do Pará (ACCPA), escolheu os melhores do cinema pela primeira vez em 1963. No ano anterior críticos também elegeram os melhores do ano em Belém, mas individualizados, não estavam reunidos em associação. O resultado das escolhas foi publicado em jornais da cidade, material esse que disponho em meus arquivos de papel e vou usá-lo para apresentar, a seguir, os dez melhores filmes de cada ano, os melhores diretores, atores, roteiristas, enfim os melhores das categorias de artistas e técnicos que contribuem para a realização da obra cinematográfica.

Os Melhores do Cinema em Belém em 1962

Com o título “Críticos Paraenses Escolhem os Melhores de 1962”, foi publicada em “O Liberal”, de Belém, em 31 de dezembro de 1962, a lista dos filmes e demais categorias selecionados de acordo com as opiniões dos “críticos militantes da cidade”: Acyr Castro e Alberto Queiroz, de “O Liberal”, Rafael Costa, do “Jornal do Dia”, Edwaldo Martins e Sérgio Paulo de Macêdo, da Rádio Marajoara, e Arnaldo Prado Junior, do suplemento literário de “A Província do Pará”.

O critério de classificação para a escolha foi o seguinte:

"Atribuiu-se ao primeiro colocado, na ordem dos melhores filmes, a nota 100, ao segundo o valor 90, ao terceiro 80, e assim por diante. Somando ainda, ao final, os valores obtidos dentro da lista individual dos cronistas.

"Para a seleção dos melhores diretores, atores e técnicos o processo utilizado foi o da votação pura e simples".

OS MELHORES DO ANO

1) “A DOCE VIDA” (La Dolce Vita), Federico Fellini, Itália – 570 pontos.

2) “ROCCO E SEUS IRMÃOS” (Roco i Suoi Fratelli), Luchino Visconti, Itália - 560 pontos.

3) “UM CONDENADO À MORTE ESCAPOU” (Um Condamné à Mort s’est Échapé), Robert Brésson, França – 330 pontos.

4) “ROMEU E JULIETA NAS TREVAS” (Romeo, Julia a Tma), Jiri Weiss, Tchecoslováquia – 320 pontos.

5) “ACOSSADO” (A Bout de Souffle), Jean-Luc Goddard, França – 300 pontos.

6) “O PAGADOR DE PROMESSAS”, Anselmo Duarte, Brasil – 290 pontos.

7) “O BELO ANTONIO”, (Il Bell Antonio), Mauro Bolognini, Itália – 200 pontos.

8) “A LONGA NOITE DE LOUCURAS”, (La Notte Brava), Mauro Bolognini, Itália – 170 pontos.

9) “A UM PASSO DA LIBERDADE”, (Le Trou), Jacques Becker, França – 140 pontos.

10) “JULGAMENTO EM NUREMBERG” (Judgment at Nuremberg), Stanley Kramer, EE. UU. – 130 pontos.

MELHOR DIRETOR: FEDERICO FELLINI, por “A Doce Vida” – 3 votos

MELHOR ATOR: MARCELLO MASTROIANNI, por suas atuações em “A Doce Vida”, “O Belo Antonio” e “Divórcio à Italiana” – 5 votos.

MELHOR ATRIZ: ANNIE GIRARDOT, por “Rocco e Seus Irmãos” – 4 votos.

MELHOR ATOR COADJUVANTE: PIERRE BRASSEUR, por “O Belo Antonio” – 3 votos.

MELHOR ATRIZ COADJUVANTE: KATINA PAXINOU, por “Rocco e Seus Irmãos” – 3 votos.

MELHOR ROTEIRO: O de Luchino Visconti, Suso Cecchi D’Amico, Pasquale Festa Campanile, Mássimo Franciosa e Enrico Medioli, por “Rocco e Seus Irmãos” – 4 votos.

MELHOR FOTÓGRAFO: GIUSEPPE ROTUNDO, por “Rocco e Seus Irmãos” – 3 votos.

MELHOR MÚSICO: NINO ROTA, por “Rocco e Seus Irmãos” e “A Doce Vida” – 4 votos.

MENÇÃO ESPECIAL: “O ENCOURAÇADO POTENKINE” (URSS, Serguei Eisenstein), “RISOS E SENSAÇÕES DE OUTRORA” (EE. UU., Robert Youngson) e “CARLITOS EM DESFILE” (EE. UU., Charles Spencer Chaplin) – unanimemente.

REVELAÇÃO DE DIRETOR: MAURO BOLOGNINI (“A Longa Noite de Loucuras”, “Um Dia de Enlouquecer” e “O Belo Antonio” – unanimemente.

REVELAÇÃO DE ATOR: MAXIMILLIAN SCHELL (“Julgamento em Nuremberg”) – 4 votos.

REVELAÇÃO DE ATRIZ: DAMA SMUTNA , em “Romeu e Julieta nas Trevas” – 5 votos.

REVELAÇÃO INFANTIL: HAYLEY MILLS, em “Marcados pelo Destino” – unanimemente.

MELHOR EXIBIDOR: EMPRESA S. LUIZ LTDA, na pessoa de seu gerente local Sr. Adalberto Augusto Affonso – unanimemente.

MELHOR ATOR NACIONAL: LEONARDO VILAR (“O Pagador de Promessas”) – unanimemente.

MELHOR ATRIZ NACIONAL: TÔNIA CARRERO (“Esse Rio Que Eu Amo”) – 3 votos.

MELHOR DIRETOR NACIONAL: ANSELMO DUARTE (“O Pagador de Promessas”) – unanimemente.

MELHOR COADJUVANTE NACIONAL: ATOR: GRANDE OTELO (“O Assalto ao Trem Pagador”) – unanimemente. ATRIZ: NORMA BENGUELL (“Os Cafajestes”, “O Pagador de Promessas” e “Mulheres & Milhões”) – unanimemente.

MELHOR ROTEIRO NACIONAL: O de ROBERTO FARIA, LUIZ CARLOS BARRETO e ALLINOR DE AZEVEDO, para “O Assalto ao Trem Pagador” – 4 votos.

MELHOR FOTÓGRAFO NACIONAL: CHICK FOWLE (“O Pagador de Promessas” e “A Primeira Missa”) – unanimemente.

MELHOR MÚSICO NACIONAL: LUIZ BONFÁ (“Os Cafajestes”) – 3 votos.

REVELAÇÃO DE DIRETOR NACIONAL: RUY GUERRA (“Os Cafajestes”) – unanimemente.

REVELAÇÃO DE ATRIZ NACIONAL: LUISA MARANHÃO (“O Assalto ao Trem Pagador”) – 3 votos.

REVELAÇÃO DE ATOR NACIONAL: ELIEZER GOMES (“O Assalto ao Trem Pagador”) – 4 votos

O PIOR FILME DO ANO: “O REI DOS REIS”, (EE. UU.), Nicholas Ray.


Os Melhores do Cinema em Belém em 1963, de acordo com a recém-formada Associação Paraense de Críticos Cinematográficos (APCC)

Com a reportagem ocupando página inteira, o jornal “A Província do Pará”, de Belém, publicou a relação dos melhores do cinema do ano de 1963, no dia 5 de janeiro de 1964, na página 2 do 2º caderno. O título da matéria é o seguinte: A Associação Paraense de Críticos Cinematográficos escolhe os melhores do ano. A apresentação começa assim:

"Findo 1963, apresentamos aqui relação das obras e autores que mais se salientaram no campo da cinematografia no desenrolar de toda a temporada, de acordo com o ponto de vista da recém-formada Associação Paraense de Críticos Cinematográficos (APCC)".

Sobre os critérios de votação adianta-se que a escolha de “A Aventura” para primeiro lugar deu-se por ter aparecido na lista de quatro críticos em primeiro lugar e em segundo lugar na de outro e o único que não votou no filme foi aquele que não o assistira.

"A lista geral, obediente ao processo de valores – atribui-se ao segundo colocado a marca 90, ao terceiro 80 e assim por diante, somando, ao fim, as notas obtidas dentro do voto individual de cada crítico, na ordem de seleção dos melhores filmes -, levou em conta sobretudo o binômio “forma versus conteúdo”, considerando tanto as possibilidades de desenvolvimento de uma pesquisa estética superior como a utilização com sucesso dos recursos específicos, de unidade e de equilíbrio, das películas exibidas no circuito comercial nesses 12 meses passados, em Belém, películas sempre que possível comentadas nas diversa colunas e programas especializados durante o ano".

Em seguida faz-se uma rápida avaliação dos lançamentos em Belém e a apresentação é encerrada:

"Procuramos igualmente selecionar, em votação pura e simples, os cineastas, os intérpretes, isto é, os artistas que fazem e ajudam a fazer a obra de arte do cinema.

"Dos melhores filmes, constantes da nossa relação, os sete primeiros colocados e o nono foram exibidos pela Empresa de Cinemas S. Luiz Ltda., confirmando a sua escolha como a melhor exibidora do ano".

Participaram da escolha os seguintes críticos: Edwaldo Martins (Rádio Marajoara), Acyr Castro (A Província do Pará), Rafael Vieira da Costa (Jornal do Dia), Arnaldo Prado Junior (A Província do Pará), Alberto Queiroz (O Liberal). A seguir está o resultado da escolha:

MELHORES FILMES

1. “A AVENTURA” (L’Avventura), de Michelangelo Antonioni – Itália.

2. “O BANDIDO GIULIANO” (Salvatore Giuliano), de Francesco Rosi – Itália – 560 pontos.

3. “O HOMEM DE ALCATRAZ” (Bird Man of Alcatraz), de John Frankenheimer - EE. UU. – 400 pontos.

4. “AMOR, SUBLIME AMOR” (West Side Story), de Robert Wise & Jerome Robbins – EE. UU. – 300 pontos.

5. “O CORVO AMARELO” (Kiiroi Karasu), de Heinosuke Gosho – Japão – 260 pontos.

6. “OBSESSÃO DE MATAR” (War Hunt), de Denis Saunders – EE. UU. – 230 pontos.

7. “OS INOCENTES” (The Innocents), de Jack Clayton, - Inglaterra – 190 pontos.

8. “PISTOLEIROS DO ENTARDECER” (Guns in the Afternoon), de Sam Peckinpah – EE. UU. – 140 pontos.

9. “AMANTES E ADOLESCENTES” (I Dolci Inganni), de Alberto Lattuada – Itália – 110 pontos.

10. “ A BELA AMERICANA” (La Belle Americane), de Robert Dhery – França – 90 pontos.

MELHOR DIRETOR MICHELANGELO ANTONIONI, por “A Aventura” – 4 votos

MELHOR ATOR BURT LANCASTER, por “O Homem de Alcatraz” – Unanimidade.

MELHOR ATRIZ GERALDINE PAGE, por “O Doce Pássaro da Juventude” – 3 votos.

MELHOR ATOR COADJUVANTE KARL MALDEN, por “O Homem de Alcatraz” – 3 votos.

MELHOR ATRIZ COADUVANTE BETTY FIELD, por “O Homem de Alcatraz” – 5 votos.

MELHOR ROTEIRISTA MICHELANGELO ANTONIONI e equipe, por “A Aventura” – 3 votos.

MELHOR CINEGRAFISTA Em cores: HENRY DECAE, por “Vida Privada” – 4 votos. Em preto e branco: “Bandido Giuliano” – 3 votos.

MELHOR PARTITURA MUSICAL “AMOR, SUBLIME AMOR”, de autoria de LEONARD BERNSTEIN – 4 votos.

MELHORES REVELAÇÕES Diretor: SAM PECKINPAH, por “Pistoleiros do Entardecer”, e LESLIE STEVENS, por “Propriedade Privada” – 2 votos cada. Ator: ROBERT DHERY, por “A Bela Americana” e WARREN BEATTY, por “Anjo Violento” – 2 votos cada. Atriz: MARIETTE HARTLEY, por “Pistoleiro do Entardecer” – 2 votos. Infantis: MARTIN STEPHENS, por “Os Inocentes” – 4 votos. PAMELA FRANKLIN, por “Os Inocentes” – 4 votos.

MELHOR FILME NACIONAL “GARRRINCHA, ALEGRIA DO POVO”, de Joaquim Pedro – 2 votos.

MELHOR ATOR NACIONAL JECE VALADÃO, por “O Boca de Ouro” – 4 votos.

MELHOR ATRIZ NACIONAL ODETTE LARA, por “O Boca de Ouro” – 4 votos.

MELHOR DIRETOR NACIONAL JOAQUIM PEDRO, Joaquim Pedro, por “Garrincha, Alegria do Povo” – 2 votos.

MELHOR EXIBIDOR EMPRESA DE CINEMAS SÃO LUIZ LTDA., na pessoa de seu gerente local, Sr. ADALBERTO AUGUSTO AFFONSO.

PIOR FILME “EXPERIÊNCIA CULMINANTE” - 3 votos.

A publicação discrimina a votação de cada crítico e ao final, sob o título - Os “10 mais”: em análise - , Acyr Castro (A. C.) faz uma avaliação sintética de cada um dos filmes escolhidos.

Foi, assim, a primeira escolha dos melhores do cinema do ano feita pela recém-criada Associação Paraense de Críticos Cinematográficos (APCC).

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Cine Clube Juventude (CCJ)

No dia 5 de junho de 1959, no jornal católico A Palavra, de Belém, a equipe C. C. J. publicou a coluna “CINEMA”. Nela havia um comentário sobre o filme Assim Caminha a Humanidade (Giant), dirigido por Georges Stevens, com Rock Hudson, Elisabeth Taylor e James Dean nos papéis principais; o texto estava assinado por A.P.J., H.F.N., G. S. e P. M. R. As letras C. C. J. são as iniciais de Cine Clube Juventude e os autores são Arnaldo Prado Junior, Habib Fraiha Neto, Guilherme Sicsú e Pedro Miguel Roumié.
Havia, ainda, um texto intitulado “Difusão do Cinema”, de A.P.J., que situava o cinema da atualidade; começava assim:

"Quando a 28 de dezembro de 1895 o cinematógrafo dos irmãos Lumière foi apresentado ao público, não se poderia prever o futuro que estava destinado àquela invenção".

O texto apresentava as principais características do cinema e terminava com o parágrafo:

"Pelo fato de abordar assuntos variados e por vezes complexos e apresentá-los numa linguagem que pode ser deveras convincente, o cinema, ainda por estar enormemente difundido, precisa ser estudado para que possa ser compreendido, tanto pelos que fazem cinema como pelos espectadores".

O texto é simples com o objetivo de despertar o interesse para se estudar cinema e difundir a cultura cinematográfica, objetivo que motivou nosso grupo a fundar o Cine Clube Juventude (CCJ), além, claro, da paixão pela 7ª Arte. O nome vem da Casa da Juventude, então coordenada pelo Padre Raul Tavares, pois o cine clube estava ligado à Casa, àquela altura sediada à Av. Governador José Malcher, 282.
O terceiro tópico da coluna é um relato das “ATIVIDADES DO CCJ”, salientando-se a realização de cine fóruns e debates sobre filmes exibidos no Colégio Nazaré entre eles O Balão Vermelho, Se Todos os Homens do Mundo e Os Sete Samurais. Registra-se, ainda, exibição de filme no Colégio Gentil Bittencourt com debate com as alunas presentes. Também foi realizado um cine fórum quando foi exibido Europa 51, no Colégio Nazaré. A última notícia se refere à realização de um curso de cinema na sede da Casa da Juventude.

A coluna seguinte publicada em A Palavra de 14 de junho de 1959 apresenta um comentário de Arnaldo Prado Junior sobre A Sombra da Forca (Time Without Pity), dirigido por Joseph Losey, com Michael Redgrave e Ann Todd, e um texto de Guilherme Sicsú enfocando Asas de Águia (The Wings of Eagle), dirigido por John Ford, com John Wayne, Maureen O’Hara e Dan Dailey. Completando a coluna há um texto de Guilherme Sicsú intitulado NECESSIDADE DE UMA CULTURA CINEMATOGRÁFICA, realçando um dos objetivos do CCJ que é incentivar o estudo sobre cinema.

A publicação seguinte sobre CINEMA, em A Palavra de 26 de julho de 1959, assinada pela equipe CCJ, apresenta um texto de Guilherme Sicsú com o título “A Importância do Cinema no Mundo de Hoje”, críticas sobre os filmes Homem do Oeste (Man of the West), dirigido por Anthony Mann, com Gary Cooper, Julie London e Lee J. Cobb e Fúria do Destino (The Sound and the Fury), dirigido por Martin Ritt, com Yul Brynner, Joanne Woodward, Margareth Leighton e Françoise Rosay. Foram, também, apresentados OS CINCO MELHORES FILMES DO SEMESTRE – Na opinião da crítica CCJ, a seguir listados:

1. - “NA ESTRADA DA VIDA”
Original: “La Strada”
Direção: Federido Fellini
Produção: Ponti de Laurentiis
Elenco: Giulieta Masina, Anthony Quinn, Richard Basehart

2. - “AQUELE QUE DEVE MORRER”
Original: “Celui qui Doit Mourir”
Direção : Jules Dassin
Elenco: Jean Servais, Nicole Berger, Melina Mercouri, Pierre Vaneck


3. – “GRILHÕES DO PASSADO”
Original: “Confidential Report”
Direção e produção: Orson Welles
Elenco: Orson Welles, Patricia Medina

4. – “EMBRIAGUÊS DO SUCESSO”
Original: “Sweet Smell of Success”
Direção: Alexandre Mackendrik
Produção: James Hill
Elenco: Burt Lancaster, Tony Curtis

5. – “A CASA DE CHÁ DO LUAR DE AGOSTO”
Original: “The Teahouse of the August Moon”
Direção: Daniel Mann
Produção: Jack Cumings
Elenco: Glenn Ford, Marlon Brando, Machiko Kyo

Na publicação de 2 de agosto de 1959 em A Palavra, há um texto de autoria de Arnaldo Prado Junior com o título “A Influência do Cinema” e comentários de filmes, um de Guilherme Sicsú sobre Turbilhão de Paixões (Twilight for the Gods) e outro de Arnaldo Prado Junior sobre “A 20 Milhões de Léguas da Terra” (20 Million Miles to Earth), dirigido por Nathan Juran. O último tópico relata as “Atividades do Cine Clube Juventude”. Nesse item, a primeira referência diz respeito a um encontro na casa do cineclubista Arnaldo Prado Junior, no dia 1º de julho de 1959, com o intuito de conferir o título de sócios honorários-beneméritos a pessoas que, de algum modo, apoiaram as atividades do CCJ: Francisco Paulo Mendes, Benedito Nunes, Roberto Santos, Orlando Costa e Pedro Veriano.
Relendo essa notícia agora (janeiro de 2010) não me lembro dos detalhes sobre o modo como os homenageados foram comunicados, e se todos o foram, e quais deles estiveram presentes no encontro. Para concluir este registro transcrevo a parte final do que está escrito na notícia:

"Às 21:30 hs. o membro do Cine Clube Habib Faiha fez um rápido discurso de recepção aos sócios beneméritos, sendo nesta ocasião apresentado o “Livro de Ouro” do Clube, para assinarem seus nomes. Após a cerimônia o professor [Francisco] Paulo Mendes agradeceu em rápidas palavras em nome dos homenageados, tendo feito na ocasião uma breve exposição da importância da cultura cinematográfica".

Além dos cines-fórum já citados em notícia anterior, O CCJ realizou debates sobre os filmes Rastros de Ódio, de John Ford, Monsieur Vincent, o Capelão das Galeras, de Maurice Cloché e Antes do Dilúvio, de André Cayate.

Havia ainda o registro da realização de um curso de cinema:

"O colegiado que responde este ano pelos destinos do Cine Clube Juventude não teve unicamente, em seu programa, como meio de divulgação do cinema arte, debates de filmes. Assim é que foi aberto no começo do ano, um Curso de Crítica Cinematográfica, tendo por fim formar pessoas que sejam reais conhecedoras da arte cinematográfica, e dela sejam propagandistas. O referido curso se reiniciará no próximo sábado com a preleção do cineclubista Habib Fraiha".

Foi anunciada para o

dia 8 [de agosto de 1959], sábado, às 19h:30, a exibição do filme “Grilhões do Passado” (Confidential Report), magnífica película de Orson Welles [...].
Como os demais filmes apresentados por este Cine Clube, far-se-á, após a exibição do filme um pequeno debate sobre o conteúdo artístico do mesmo, sendo que antes da projeção será feita a apresentação do filme pelo cineclubista Arnaldo Prado Junior".

E com toda a empolgação que movia os autores da coluna CINEMA, em A Palavra, o registro das atividades do CCJ concluía:

"Aqui deixa o Cine Clube Juventude (C. C. J.) a todos os sócios do mesmo, bem como aos pertencentes ao curso de cinema, e respectivas famílias, o convite para que com suas presenças venham abrilhantar mais esta realização do Cine Clube, em prol do bom cinema".

Os Melhores do Cinema em Belém em 1959
No dia 11 de janeiro de 1960 foi publicada a coluna LT na 7ª ARTE, em O Liberal Tablóide, suplemento semanal de O OLiberal, encartado às segundas-feiras. Essa coluna sobre cinema era da responsabilidade dos componentes do Cine Clube Juventude (Equipe CCJ), que anteriormente escreveram em A Palavra: Arnaldo Prado Junior, Guilherme Sicsú, Habib Fraiha Neto e Pedro Miguel Roumié. Inicialmente foi feita a apresentação do CCJ, em seguida rápidas considerações sobre o ano cinematográfico de 1959 em Belém e, então, apresentados os melhores daquele ano na opinião dos quatro:

1 – NA ESTRADA DA VIDA – (La Strada) – Direção de Federico Fellini
2 – AQUELE QUE DEVE MORRER – (Celui qui Doit Mourir) – Direção de Jules Dassin
3 – NOITES DE CABÍRIA – (La Notti di Cabiria) – Direção de Federico Fellini
4 – RICARDO III – (Richard III) – Direção de Laurence Olivier
5 – O VELHO E O MAR – (The Old Man and the Sea) – Direção de John Sturges
6 – O DIÁRIO DE ANNE FRANK – (Anne Frank) – Direção de George Stevens
7 – GLÓRIA FEITA DE SANGUE – (Paths of Glory) – Direção de Stanley Kubrick
8 – AS VIRGENS DE SALEM – (Les Sorcière de Salem) – Direção de Raymond Rouleau
9 - ACORRENTADOS – (The Defiant Ones) – Direção de Stanley Kramer
10 – O QUINTETO DA MORTE – (The Ladykillers) – Direção de Alexander Mackendrick

MELHORES DIRETORES:
1 – Federico Fellini (“A Estrada da Vida” e “Noites de Cabíria”)
2 – Jules Dassin (“Aquele que Deve Morrer”)

MELHORES ATORES:
1 – Lawrence Olivier (“Ricardo III”)
2 – Andy Griffith (“Um Rosto na Multidão”)

MELHORES ATRIZES:
1 – Giulietta Masina (“A Estrada da Vida” e “Noites de Cabíria”)
2 – Maria Schell (“Gervaise, a Flor do Lodo”)

MELHORES ATORES COADJUVANTES:
1 – Orson Welles (“A Marca da Maldade”)
2 – Richard Basehart (“A Estrada da Vida” e “Os Irmãos Ka- ramazov”)

MELHORES ATRIZES COADJUVANTES
1 – Jo Van Fleet (“Terra Cruel”)

MELHORES FOTOGRAFIAS (preto e branco):
1 – “Acorrentados”
2 – “Glória Feita de Sangue”

MELHORES FOTOGRAFIAS (coloridas):
1 – “O Velho e o Mar”
2 – “Os Irmãos Katamazov”

MELHORES ACOMPANHAMENTOS MUSICAIS:
1 – “A Estrada da Vida”
2- “Glória Feita de Sangue”

MELHORES ARGUMENTOS:
1 – “Aquele que Deve Morrer”
2 – “Noites de Cabíria”

MELHORES ADAPTAÇÕES:
1 – “O Velho e o Mar”
2 – “Ricardo III”

MELHOR FILME POLICIAL: - “A Marca da Maldade”

MELHOR FICÇÃO CIENTÍFICA: – “A Mosca da Cabeça Branca”

MELHOR WESTERN: - “Da Terra Nascem os Homens”

MAIOR ABACAXI: - “Escravos do Amor das Amazonas”, de Kurt Siodmack

APRESENTAÇÃO

Um dos objetivos da construção e manutenção deste espaço é antecipar alguns tópicos de um texto que estou escrevendo, e que poderá vir a ser publicado como livro, que relata “Um Percurso no Cinema e nas Histórias em Quadrinhos”, resultado de minha curtição, estudos e publicações sobre a Sétima Arte e a Nona, e que vem desde o final da década de 1940, a curtição, claro. Isto mesmo, desde a metade do século XX.

Nesta trajetória está toda a minha educação familiar e formal, em colégio, na Faculdade de Engenharia, como engenheiro do Departamento de Estradas de Rodagem do Pará (DERPA), e como professor da Universidade Federal do Pará (UFPA), incluindo o tempo de realização do mestrado na Pontifícia Universidade Católica Rio de Janeiro (PUC-RJ). Em todas essas atividades nunca deixei de ir ao cinema e nem de ler histórias em quadrinhos, regularmente e, às vezes, frequentemente.

Empolgado com as aventuras dos heróis dos quadrinhos no final da década de 1940, alguns deles levados ao cinema pelos seriados, assistidos nas vesperais-passatempos do cinema Olympia, aos poucos o puro interesse pela diversão descompromissada foi abrindo caminho para o estudo como artes e meios de expressão e comunicação, expandindo-se na diversidade dos aspectos envolvidos do ponto de vista das linguagens, o formal, e a variedade dos conteúdos.

Das restrições de educadores ao apoio explícito a sessões de cinema no colégio com apresentações e debates, chegamos, na segunda metade da década de 1950 à criação do Cine Clube Juventude (CCJ) e em 1959 às publicações de crônicas e comentários em jornais, de responsabilidade da Equipe CCJ. De 5 de junho de 1959 a 7 de junho de 1964 tive uma produção regular em vários jornais de Belém, já tendo no cinema e nas histórias em quadrinhos uma trajetória integrada às minhas atividades acadêmicas e técnicas. Assim, ao escrever os primeiros comentários sobre cinema como componente da Equipe CCJ, em 1959, eu era estudante da Escola de Engenharia da Universidade Federal do Pará.

Por ser da área tecnológica, alguns colegas chegaram a questionar por que eu, aluno de engenharia, escrevia sobre cinema, uma atividade que eles consideravam própria da área de ciências humanas. Em 1963, já então formado e como engenheiro do Departamento de Estradas de Rodagem do Pará (DERPA), apesar de não ser questionado diretamente por escrever sobre cinema, havia quem avaliasse negativamente a crítica, de um modo geral, por ser extremamente hermética e apreciar obras que a maioria do público não entendia. Claro que tal observação era feita como gozação, aliás, maneira bem própria de nós engenheiros que trabalhavam na estrada.

Quando fui fazer o curso de mestrado na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), mantive minha frequência ao cinema, tendo tido a sorte de morar no Posto 6, em Copacabana, onde havia o Cinema Asteca, que exibia filmes de qualidade artística reconhecida; por exemplo, assisti lá “Alexandre Nevsky” e “Deserto Rosso”, para citar apenas dois. Eu acompanhava a programação de cinema da cidade, sobretudo as exibições em cinemas de Copacabana. Bastava eu descer do pequeno apartamento onde morava e, andando, podia alcançar vários cinemas; e ainda frequentava sessões especiais na PUC. Eu tinha uma cadernetinha onde anotava os filmes que assistia; infelizmente eu a perdi, ou está escondida em um dos inúmeros escaninhos (na verdade esconderijos) do meu arquivo de papel, um constante aborrecimento porque minha mulher acha que entulho a casa com tanto material velho. Enfim, vou sobrevivendo...Ah, foi durante essa minha estada no Rio que li “Cem Anos de Solidão”, o mais marcante e também “Servidão Humana”: impressionantes.

Voltei para Belém em 1973 e continuei saboreando e estudando cinema e histórias em quadrinhos. Na década de 1980, quando eu trabalhava como professor no Núcleo de Altos Estudos Amazônicos (NAEA) da UFPA a Luzia Miranda Álvares, que fazia especialização/mestrado/doutorado no Núcleo, convidou-me para colaborar na coluna “Panorama” que ela mantinha, e até hoje mantém, em “O Liberal”. Foi uma satisfação muito grande voltar a escrever sobre cinema.

Um fato significativo ocorreu logo no início; acho que foi no primeiro comentário que ela pediu que eu escrevesse. Estreava no Cinema Palácio “Superman – o Filme”. Fui assisti-lo para cumprir a tarefa e surgiu um imprevisto: a cópia era dublada e quase não ouvi nada. Solução: escrever sobre o Super-Homem como personagem de histórias em quadrinhos. Assim, além de comentar filmes, passei a escrever, aos domingos, um texto enfocando personagens das histórias em quadrinhos. Durante algum tempo, enquanto a Luzia tinha espaço disponível, colaborei nos dois temas.

Em função dessa participação na coluna da Luzia, o Pedro Veriano inseriu-me no quadro de cotações da coluna que ele produzia em “A Província do Pará” e voltei, a convite dele, a participar da escolha dos melhores do ano da Associação Paraense de Críticos Cinematográficos. Agora, como vice-presidente da ACCPA, tenho, ainda, mais motivos para continuar me dedicando ao cinema, sem deixar as histórias em quadrinhos.

Nos atuais programas de exibições da ACCPA tenho participado ativamente dos debates e já fiz a apresentação de dois filmes, “Milagre em Milão” e “Tempos Modernos”; aliás, por conta do filme de Chaplin Modern Times é que titulei este espaço. Com esta divulgação espero estar contribuindo para a divulgação e estudo do cinema e das histórias em quadrinhos.